quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Guerra Civil Espanhola

A Guerra Civil Espanhola, iniciada no dia 18 de julho de 1936, foi marcada, durante três anos, pelo conflito entre as forças nacionalistas de direita - que pretendiam um golpe de Estado - com os partidários da esquerda republicana, no poder na época.

Esse sangrento conflito entre as "duas Espanhas", que deixou mais de 500.000 mortos e ficou famoso em todo o mundo pelas múltiplas atrocidades ocorridas, terminou em abril de 1939, com a vitória dos direitistas comandados pelo general Francisco Franco, que impôs ao país a repressão através de uma ditadura que prosseguiu até 1975, ano de sua morte.

A Alemanha de Hitler e a Itália de Mussolini apoiaram os direitistas, enquanto que a União Soviética apoiou os republicanos durante o confronto, classificado atualmente por muitos como um prelúdio da Segunda Guerra Mundial.

Auxiliado pelas forças aérea alemã e italiana, o exército rebelde na África, comandado por Franco, e as forças nacionalitass do norte, dirigidas pelo general Emilio Mola, conquistaram inúmeras vitórias no caminho para Madri.

Entretanto, as forças rebeldes foram detidas por milícias ao norte da capital. A entrada na guerra em outubro, junto aos republicanos, da URSS e depois das célebres Brigadas Internacionais permitiu equilibrar temporariamente as forças.

Os dois grupos iniciaram uma guerra de posições, marcada por duras batalhas - Jarama, Belchite e Teruel - e massacres indiscriminados da população civil, especialmente em Guernica, no País Basco, arrasada pela aviação nazista em abril de 1937, com 1.600 mortos.


Uma das fotos mais famosas da Guerra Civil Espanhola é atribuída a Robert Capa.
O momento exato da morte de um soldado republicano perpetuou a imagem de uma guerra
fratricida, primeiro símbolo dos "fascínios ideológicos' que marcariam indelevelmente o século XX


Pouco a pouco, o exército nacionalista, bem equipado e disciplinado, foi se impondo aos republicanos, que não foram auxiliados pelas democracias ocidentais, entre elas a França e a Inglaterra.

A última contra-ofensiva em novembro de 1939, com a derrota dos republicanos, marcou a rendição dos esquerdistas, que se renderam no dia 1o de abril de 1939. Essa derrota foi seguida de uma cruel repressão do regime de Franco, que fuzilou cerca de 50.000 republicanos.

O "Blitzkrieg" - ofensiva relâmpago com blindados - foi um dos métodos de ataque aperfeiçoados na Espanha pelas forças estrangeiras presentes no conflito, que depois foram usadas na 2ª Grande Guerra.

As crianças da Guernica e seus Países Adotivos 


Crianças na guerra civil espanhola (1936-1939)
Fotógrafo desconhecido
Com a Guerra Civil, durante os anos de 1937 e 1938, mais de 35.000 crianças foram levadas para a União Soviética e México. Outros países europeus também acolheram os refugiados, entre eles, França (22.000) e Bélgica (mais de 3.000). Muitas deles nunca mais voltaram para a Espanha, mas seus depoimentos nos permitem reconstruir hoje a parte da história de uma geração que sofreu os horrores da guerra e o desarraigo.

México - O governo republicano, transferido para Valencia, organizou desocupações infantis para o México, país que ofereceu refúgio através do seu Presidente Lázaro Cárdenas. Quase 500 mil crianças foram enviadas para a cidade de Morelia em Michoacán, alojando-se em uma escola recém equipada num prédio da igreja. A sociedade moreliana era extremamente conservadora para acolher crianças de famílias republicanas, dando lugar a uma série de conflitos. A imprensa conservadora aproveitou o momento para fazer uma campanha contra a política cardenista em relação aos refugiados espanhóis. Na década de 60, as crianças de Morelia já haviam estabelecido profundas raízes sociais e familiares no México, por isso muitas delas não voltaram para a Espanha.

Amparo Batanero: Tinha apenas 5 anos quando pegou um trem para ir ao México junto com seus irmãos em 1937. As lembranças dos primeiros anos não são muitas, mas recebia cartas de sua mãe dizendo-lhe que se comportasse e que se reuniriam em breve. Mesmo com uma dívida pendente, visitou Espanha para “conhecer” os pais e a irmã menor que tinha ficado lá. Em 1974 recebeu a nacionalidade mexicana com orgulho e agradecimento.

Unión Soviética - A União Soviética apoiou o governo republicano desde o início da Guerra Civil e acolheu mais de 3.000 crianças, recebidas como heróis. Elas foram educadas no mais alto nível das diversas matérias para que ocupassem boas posições profissionais ao regressarem à Espanha. Mas ao final da Segunda Guerra Mundial, Espanha e União Soviética já não mantinham boas relações diplomáticas e as crianças não tiveram alternativa do que continuar a viver no local que as acolheram. A maioria que decidiu voltar ao país de origem durante a década de 50 não conseguiu se adaptar e seus diplomas acadêmicos não foram reconhecidos pelas autoridades espanholas.

Juanita Prieto: Em julho de 1937, aos 12 anos de idade, ela deixou seus pais, tios e avós para se refugiar na União Soviética. Ela estudou com professores espanhóis e com livros que eram traduzidos para que as crianças não perdessem o contato com a língua castelhana. Durante muitos anos viveu com a ilusão de voltar para Espanha, mesmo sem ter tido nenhuma notícia de familiares. Durante a década de 90, com a União Soviética devastada e sem nenhum patrimônio, transladou-se para sua terra natal onde, mesmo com as lembranças da infância, sente-se tratada como estrangeira.

Grã Bretanha - Inicialmente, negaram acolher as crianças refugiadas por temor que o ato fosse interpretado como um apoio aos republicanos, mas a forte reação da opinião pública britânica diante o bombardeio de Guernica, forçou o governo a mudar sua decisão. 4.000 crianças foram recebidas sem nenhuma contribuição econômica ou material. Voluntários de organizações civis ocuparam-se delas em um imenso acampamento ao ar livre no sul da Inglaterra. Após o final da Guerra Civil, uma grande parte destas crianças voltaram para a Espanha.

Begonia Ballesteros: Suas lembranças da guerra são a sirenes antes dos bombardeios e a destruição. Morava em Bilbao e foi levada para a Grã Bretanha junto com sua irmã em 1937. Em 1940, quando Franco pede que as crianças refugiadas sejam devolvidas, volta para seu país sem conseguir ver os pais, em meio de perseguições e fome.

A Obra Magistral de Picasso

Ver imagem ampliadaGuernica (figura ao lado) é um óleo sobre tela de 349 x 777 cm e foi encarregado pelo governo da República Espanhola para o Pavilhão de Euskadi na Exposição Internacional celebrada em Paris em 1937.

A idéia de propaganda dos republicanos era manifestar a oposição deles ao levante nacional e a guerra provocada pelos rebeldes. Mas Picasso só começou a pintar o quadro após o bombardeio, por sugestão de Juan Larrea, poeta espanhol surrealista residente em Paris.

Para realizar esta obra, Picasso recorreu das fotografias publicadas nos jornais da época que mostravam a cidade em chamas. Através delas, fez uma composição utilizando somente o branco, o preto e o cinza. 

A composição está distribuída como um tríptico. O painel central é ocupado por um cavalo agonizante. O quadro reproduz em total seis seres humanos e três animais. A base do triângulo central está assinalada pelo corpo caído do guerreiro morto, um corpo desmembrado, esquartejado e que se transforma em símbolo visual da matança.

Picasso nunca deixou de colocar na parte debaixo das suas obras a assinatura e a data em que as terminou, mas em Guernica este detalhe não aparece. Talvez o autor quisesse com sua omissão expor uma dimensão atemporal à obra. 

Com esta obra, Picasso mostra um compromisso político e ideológico que reflete não somente a crueldade de um massacre concreto, mas deixa uma súplica contra a injustiça da guerra e a barbárie do fascismo e o nacional-social que invadiria a Europa mais adiante. 

Desde 1981 o quadro está instalado no Museu Reina Sofía de Madrid, pois a vontade do autor era de que ele não pisasse solo espanhol até a morte de Franco em 1975.

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